terça-feira, 11 de agosto de 2009

Dança profana



Tive fome de dança, tive sede de vida. Quis comer das maravilhas e destruir todas as desgraças. Corri pelos ares, ornei-me em movimentos – e a poeira subiu para além da sola dos meus pés.

O ar se encheu de partículas que se tornaram estrelas! O fosco se fez brilho e as pedras se tornaram almas. Minhas pernas se abriram, minha cabeça se esvaziou de mim e eu fui coberto pelo som do mar. Meus olhos arderam com chamas secas e o vento me invadiu o litoral, o suor do meu peito. Entre uma onda e outra, pelas candeias e cantos da Virgem da Glória, minha boca salivava e eu soltava gritos como os gritos de “evoé!”. Não sabia nem saber o que falar – apenas gritava palavras redondas e invocações incoerentes, sílabas que enroscassem minha língua. Meus lábios sorriam. As narinas arquejavam pelo sopro profano e os dentes trincavam no ar impuro com vontade de tudo. Minha pele agitava os parangolés de Oiticica nos tecidos de Pamplona – e eu excitava em mim a certeza de que meu sangue era vermelho.

Meus braços se partiram e me levaram a dançar. Desdobrei-me para fora no auge do arrebatamento – fui consumido em mim. Fiz-me em minha libido e no silêncio da liberdade recriei a existência. Ultrapassei as linhas do meu corpo – e me tornei também uma estrela num êxtase de carne. Bebi a vida.


8 comentários:

  1. Gosto tanto da maneira como você reune as palavras em tudo o que escreve. Elas são sempre pares perfeitos, e o seu texto dança levemente na minha cabeça. Brindo ao movimento da sua alma e ao sabor dos seus textos.

    Beijo sempre carinhoso! ;)

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  2. "Meus olhos arderam com chamas secas e o vento me invadiu o litoral, o suor do meu peito"
    Por vezes senti-me assim enquanto dançava. Principalmente quando dançava p mim, onde o unico poblico sou eu. e as unicas vaias e aplausos são meus. de mim para mim mesma.
    eu me sinto dançando no seu texto.
    sem duvidas uma dança inesquecivel.
    bjs

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  3. Meu prisma, Meu... incansavelmente me encanto com seus textos.Tudo flui tão rapido e tão leve.
    ME orgulho de você.
    beijos
    :*
    Taís Bezerra

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  4. Do tipo de dança que eu dançaria para sempre

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  5. como uma pessoa que escreve tãããão lindo foi parar no meu humilde blog de nada??

    o começo me lembrou bastante "Capitães da Areia" do Jorge Amado. Lindo, LINDO!

    é... comigo é assim. Não funciono muito bem com palavras. E morro de inveja de quem funciona.

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  6. Nem sei o que comentar.

    Lindo!
    Beijããooo, morrendo de saudade ;D

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  7. Nossa!
    Acredito que todas as minhas interjeições estejam lutando no armazenamento dos becos de meu consciente pra que eu jogue-as aqui. Mas, o "Nossa!" já diz tudo.
    É um misto inefável de leveza e agonia., o peito fica carregado, a mente fica lesa: é uma leitura agradabilíssima.
    "Do tipo de dança que eu dançaria para sempre"[2]

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  8. Nossa, de repente o vi aparecer entre os meus escritos, fiquei felz com a novidade! E cá estou pela primeira vez parando e lendo com a atenção devida! Lindo texto, uma libertação difícil onde a entrega está rara!

    Viva os blogs com inquietações! EVOÉÉÉÉ!

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