segunda-feira, 7 de março de 2011

Caiu

Caio caiu.

Caio caiu cedinho, de manhã, antes de cair qualquer coisa.

Depois, Caio caia muito. Caia como os outros cairiam, como eu depois caí.

Como eu também, mais tarde, logo após a primeira queda, cairia como Caio – caio e até cairia de novo –, Caio veio e caiu antes que nós todos pudéssemos ter a chance de cair. Caio foi o primeiro a cair. Antes mesmo de cair a primeira queda. Caio foi o primeiro dos muitos, o primeiro de nós. Com muito, ele caiu.

Caio caiu tanto que se acostumou com a queda. Depois de Caio se acostumar, eu, toda vez que caio, como Caio, também me conformo. E todos os muitos que depois também caíram como Caio caiu, também se acostumaram como Caio e, como Caio, que não achava bom cair, mas que já tinha se acostumado, se conformaram.

Até que em Caio, antes de ele cair de novo, caiu a ficha: ele só caía. E Caio resolveu nunca mais cair, porque seu joelho já estava um tanto machucado. E Caio não levantou. Ficou deitado no chão, para nunca mais ficar em pé e, assim, nunca mais cair.

E Caio nunca mais caiu.

Até cair de novo, não mais no chão – Caio, antes que o sol caísse, cairia em si.