sábado, 20 de agosto de 2011

Babilônia Sabaoth



É esse o enleio da minha salvação:

Eu me escondo, sim, ainda, às vezes ainda durante o dia, onde eu devo mesmo, diante do mundo, realmente tenho mesmo que realmente me esconder e ser apenas dentro. Mas antes.

Mas antes – agora preciso contar sobre o antes – eu era feito apenas de sol e dia. Dias e dias, sóis feitos de sol negro, dias escuros. “Agnus Dei, qui tollis peccata mundi, miserere nobis”: não pelo lado esquerdo, não pelo lado direito, seguir em frente, seguir em frente, nunca voltar atrás, nunca amar, não ao beijo, não a mim mesmo, não a mim, não para mim, não - o gosto insosso de uma hóstia insossa, mal assada, eu mal cozido, eu mal sabia, eu mal falava, mal podia, Deus! Mas hoje. Mas agora. Mas desde que anoiteceu uma lua clara sobre meus olhos escuros.

Hoje. Falo: hoje sou livre e me desgarrei. À noite, quando estou só e então só posso ser, sou-me. Encontrei os meus! Desgarrei-me do fim e me agarrei às minhas-tuas entranhas, Senhor! “Agnus Dei, qui tollis peccata mundi, dona nobis pacem”. A morte nem mais existe, nada importa, tudo importa, tudo, tudo, tudo importa, bate à porta, na minha hora, na minha porta, na minha casa, minha mesa, minha cama, minha gana, minha, minha, meu Deus! Meu, por amor a ti, a mim, em nós, por nós, fugi, fugi-me para além de mim e hoje sou, deixei-me escapar, deixei-me fluir, hoje a noite revigora, dá força às minhas idéias bambas sobre céu e inferno. Vivo santo, meu corpo é vosso, nosso, flutua nas nuvens sem saber de pecado. É santo! “Sanctus, Sanctus, Sanctus, Dominus Deus Sabaoth. Pleni sunt cæli et terra gloria tua. Hosanna in excelsis”.

Cordeiro de Deus, vivo e presente em mim, me dança, me defende, projete, patrocina minha fuga. Os meus estão comigo. Não sou mais como quando eu tive meus catorze anos. Certo que ainda cedo, desisto diante de ontem. Eu me escondo, sim, ainda, às vezes ainda durante o dia, onde eu devo mesmo, diante do mundo, realmente tenho mesmo que realmente me esconder e ser apenas dentro. Mas Deus cá está.

Deus, ao meu lado, me fortifica e me fortalece, me faz dançar, deixa-me livre, me faz livre e me faz dançar, me faz dançar, livremente, uma profana, uma santa, uma santa e santa-profana. É esse o enleio da minha salvação – tomo hóstia, carne e sangue, gosto do gosto, gosto pelo pão bem feito, farto, bem digo, dito, bendigo aos meus, bendito, Sacro Deus.

"Hosanna in excelsis”.