sábado, 29 de maio de 2010

8'

A verdade é que ele era como a pessoa mais feliz do mundo, nem que por apenas dois minutos – aquele momento.

Saiu assim na rua, daquele jeito, com a cidade aos seus pés. Saiu gargalhando e falando aquelas coisas todas sem sentido que ele costumava falar quando estava sozinho. E pouco importava fazer sentido, porque ele se sentia incrivelmente só e feliz.

As lágrimas chegavam a escorrer pelos seus olhos e a inundar os olhos alheios. Como era bom viver. Como era. Mesmo que em sua cabeça tivesse aquela coisa de estar se sentindo fora do eixo, fora das coisas. Mesmo com aquele sentimento de estar sempre no lugar errado, mesmo com aquela coisa de achar que as pessoas não o queriam ali por perto, mesmo pensando que ele sempre amava mais do que o amavam, mesmo sem saber direito de nada – era bom viver.

Era bom estar vivo. E ele vivia. Vivia tanto que doía no peito. Doía de tanto a vida doer. Doía de tanto beber – e de a vida não conseguir escapar pelo ladrão. Doía porque doía e, assim como o que ele falava, não havia explicação. Porque respirar não é lógico. E viver é o extremo, é o ápice de um pulo extasiado.

Mais dois minutos se passaram. Seus pés pisaram o chão e ele atravessou a Treze de Maio. O asfalto engoliu sua alma e ele sentiu um gosto áspero e escuro na boca. Todo o instante de vida havia escorrido pelos seus braços. E ele se sentia só e infeliz.

As lágrimas chegavam a escorrer pelos seus olhos e a inundar os olhos alheios. Como era viver? Como era? Mesmo que em sua cabeça tivesse aquela coisa de estar se sentindo incrivelmente vivo, ele, por um instante, se perguntou. Porque ele estava tão dentro de si, que mais parecia fora – fora de dentro dele e cada vez mais dentro do mundo. E sentia que era escroto como qualquer outro. E pensava estar no lugar errado.

Essa era a verdade daquela hora, nem que por apenas dois minutos – aquele momento. Estava vivo, até que mais dois se passaram.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Na saída de emergência



Roeram algo dentro do meu peito. Ficou um vazio, um buraco enorme. E nele, eu sinto a falta do peso. Tenho medo de perder tudo. Tenho medo de perder meus amores, tenho medo de perder meus amigos, tenho medo da solidão.

Nos meus olhos, uma voz ecoa longe, como num canto de um pássaro ao último raio do sol. E eu me sinto só. Cada vez mais só. Com algo faltando dentro. A falta de alguma coisa. A falta da parte que me falta. Da parte que eu busco, da parte que eu quero preencher.

Sinto falta dos abraços. Sinto falta das canções. Sinto falta do que não existe e do que não virá. É tudo apenas um oco. Um buraco que meu peito abriga, onde sopra um vento longo e eterno, onde nada lá está.

Às vezes eu me perco por dentro. E fico dias esperando no infinito. Esperando que algo aconteça.

Às vezes eu busco.

Às vezes eu choro.

Às vezes eu me desespero.

Mas eu espero. E busco. E choro. E, de novo, me desespero. Mas espero. Com medo de tudo. Com medo de nunca ter. Com medo da falta. Com medo da vida. Com medo das coisas. Com medo da morte. Mas espero.

E quanto aos abraços, eu espero um de cada um na saída dos fundos. Na saída de emergência. No grito dos meus olhos.