segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Porto das caravelas

(para Felipe Damasceno)

Descobri a palavra certa, a que se encaixa bem na nossa boca. Descobri tua pele da roupa, descobri tua nuca e o teu suor. Descobri um monte de coisa. Descobri a nossa língua, o nosso chão. Descobri teu pescoço e deixei os meus suspiros serem descobertos.

Visitei teus cabelos com meus dedos e tentei descobrir tuas dores. Eram muitas – e eu tentei te curar. Conheci teu tédio e tentei sufocá-lo com um beijo na tua alma. Conheci tua fera e a acalmei com meus braços. E só através de ti, descobri meu porto, descobri meu instinto; descobri uma Nova Granada, o sabor da América.

Descobri meu pensamento e descobri o meu pensamento. E descobri o meu desejo nesse mesmo instante, perdido no meio dos teus monstros, escondido em todos os teus mares.

sábado, 14 de novembro de 2009

Revolução astral

(para Natasha Maciel)



Eles dois descobriram-se no mesmo caminho. Eram diferentes e nenhum dos templos os faria melhores. Nem os médicos, nem as receitas, nem qualquer filho da puta e as suas cartilhas.

O mundo parecia uma explosão. Havia um desejo incontrolável de arder, de erguer as mão fechadas e apontar, contra o resto apagado, todas as armas possíveis – os beijos, os segredos e as pátrias proibidas.

Não queriam mais a boa educação, não queriam casamento. Se uniram por também querer guerrear pelos que, como eles, tinham ódio dos que odeiam. Eles queriam, inclusive, que o mundo fosse uma união num laço além-sangue, num atestado transcendental, num anti-matrimônio de aliança. Queriam a fraternidade e a Turquia. Queriam mais que trezentos anos, queriam a imortalidade. Queriam a vermelhidão, os traços amarelos, as curvas e os círculos. Queriam era a comunhão. E queriam também força da liberdade.

Desejavam a realidade frenética, a revolução, a verdade imaterial. Não era um sonho. Era uma luta progressiva, devagar. O mundo, com o tempo, estaria mudado, pelo menos até dobrar a esquina. E talvez fosse esse o maior desafio: querer ir para além da fronteira.

Um dia, eles partiriam daqui para além das linhas divisórias que rezavam existir. Eles iriam um dia, sim. Mas num dia próximo. Num longo dia breve, onde não haveria mais as raias e os seus confins – e se tornariam, acima de outros astros, como corpos celestes, acima dos imbecis, estrelas do próprio pó.

domingo, 1 de novembro de 2009

Sobre a força do primeiro instante

Há uma força que me empurra, que me faz seguir adiante quando tenho medo das coisas. Quando tenho cansaço, quando tenho sede, quando me falta o ar... Há uma força que me faz suportar, que me faz ter voz pra gritar, que me faz ter fome de vivência, de crença no que parece não existir.

Quando me deito no chão, essa força me faz levitar e levantar minhas asas. E são elas que me levam até o amanhã – com essa força que me faz querer ver o sol.