A mobilidade da luz percorreu toda a paisagem – quebrou os vazios de uma imagem de vítreos ossos e transformou tudo em carne. Foi por entre as janelas de um prédio, foi por dentro do mundo. Passou por colunas e colunas, pelas colunas, entre espinhas e máquinas, por pedras e costumes. Tudo havia sido rasgado. Havia mudado e não havia mais espaço. Tinha veracidade nas bocas, havia o desejo de ser o que nunca tinha sido – porque não podia ter sido antes, porque não havia sido dada a vontade de viver a intensidade dos mares.
Mas a transformação foi feita. Foi – traçou um corte na previsibilidade do tempo e das coisas. As feridas abertas foram lambidas, as peles fechadas foram cortadas. Eram dores densas, eram cores em toques. Era tudo tão bom! Havia uma coragem de se arriscar – contra o medo, contra tudo e contra todos, porque agora tudo era uma verdade de verdade, ao contrário de antes. Parecia perigoso, mas não: era um grito de libertação (e não mais um segredo).
Tudo fazia parte de um momento – os suspiros, os olhos ardentes, as flores vermelhas de sangue e rosas de amor – tudo era parte de uma hora que jamais seria cicatrizada. Era um rito de passagem, sim. Era a aurora, o desabrochar do que parecia inanimado. Era um canto que, ao mesmo tempo, sendo turbulento, era suave. Era uma varredura sobre o pó de uma sobra escura. Era a luz, era um grito de sol – o dia; o sabor entre os homens. Era o beijo, eram dois. Era a primeira vez.
A liberdade, amor – a que sonhaste!