terça-feira, 19 de novembro de 2013

Toucinho fumado

Então eles apostaram em algo pra ser feito num único filete. Foi aí que eles cortaram as extremidades. Retiraram o excesso. Permitiram uns três enfeites de nada. E nada mais. Depois, eles pensaram que veriam o grande. O soberbo. Como um sopranino. Um castrati perfeito. E serviram um fermentado de ervas escuras e aguardaram o espetáculo. Com olhos que, insistentemente, esperam por algo. Saíram de dentro de suas camisas claras. Queriam contemplar o belo. O fofo. O magnífico. Que uns até pensaram que seria outra coisa. Mas eles encasquetaram na perfeição. Na salvação. Coisa de outra vida. Experiência mística. Nos campos elísios. Que ruíram feito geleia de amora no pão seco quando, na verdade, eles viram que não. E então perceberam o monstro. De um banquete falido. De café requentado. E chá de hortelã cheio de açúcar cristal. O bisonho. O fantasma. O diabo de voz rouca e sangue talhado na garganta. Com fogo nas tripas. O extraterrestre. O esquimó albino cego virgem de 134 anos nascido na República Dominicana. Com os membros cortados. E puta que pariu. Eles pensaram. Mas não deixaram nada belo. Foi como o contrário. Algo feito algo feito pra não ser sublime. Era o subterrâneo. O desfeito. O desgosto. O terrível. O feio. O horroroso. O torto. O mórbido. O incômodo. Fora de questão. Fora de contexto. Fora de quadrinho. Fora que, de tão fora, estava por fora. Servindo de entrave. Tadinho. Miúdo. Parecia uma tripa de bacon. Que frita, apesar de esquisita, talvez até fosse gostosa. Com bastante condimento por cima. E talvez com um molho de abacaxi com coentro. Mas ele fedia feito pano de chão guardado na gaveta ainda molhado. Depois de sete dias. O que tornava inviável o consumo.

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Dia de reis

A vida é uma coisa bonita, cara. O resto pode ser foda. Mas a vida é, sim, bonita. Mesmo que não caiba tudo. Mas quando eu respirei agora a pouco. Quando eu abri as costelas. Quando eu encostei no rosto com as palmas das mãos. Eu soube, naquele momento, que a vida é, sim, uma coisa bonita.