domingo, 28 de fevereiro de 2010

Primeira fragilidade

Quando grito, quando bato, quando choro e não me engasgo, eu me descubro e descubro-me para o mundo. Tomo conta de mim e me deixo ser tomado de conta. E descubro, mais uma vez, que minha instabilidade é minha cura, porque, quando explodo, dou meu lixo aos ratos e me torno cada vez mais limpo. E me torno mais forte – mais do que me vejo fraco. Porque é quando eu não peço desculpa que eu me vejo assim: perfeito, dentro do meu defeituoso círculo de imperfeições.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Àquele

Como música por baixo da porta, como um sinal, uma esperança, eu te espero aqui, ansiosamente, do outro lado, com a boca sufocada no travesseiro.

Eu te espero com o tempo. Eu te espero nas minhas fronhas. Eu te espero como um destino que, ao certo ou ao acaso, foi traçado. Te espero através dos dias, aqueles que te desenharam nos meus olhos. Te espero na minha boca. Te espero através do teu nome escrito na minha língua, pra que eu possa te pronunciar quando o sol vai dormir e meu quarto vira uma caixa de cimento frio.

Todos os dias eu te respiro. Todos os dias, desde que os meus pensamentos te inventaram, eu te espero. Eu espero assim, sem certeza – com a certeza de que um dia você chega.