domingo, 30 de janeiro de 2011

Permissão

Nasci para amar.

Fui feito assim, amei desde o princípio, dei-me todo, o meu corpo, a minha alma, a minha casa. Fiz do amor a minha pátria. E fiz dos meus sonhos de amor os meus filhos que não nasceram e que talvez nunca venham a ser.

Gastei meu tempo, muito com lágrimas. Me afoguei nelas tantos dias. Morri, confesso. Às vezes afogado. Mas foi no amor que eu nasci, me inventei. Foi amando que eu amei. Ariano, vindo em 1992, feito em 1991, vivo até 2010 pelo menos – quanto ao futuro de um amor.

Porque foi no amor que eu escrevi o meu nome, o meu lábio, a minha graça de ser.

Foi no amor a canção.

Foi no amor os meus 16 anos.

Foi no amor os meus amores.

Foi no amor a mamãe e o inho. Os meus avós, os meus bisavós, os meus amigos.

Foi no amor o meu peito todo, todo, todo aberto.

Foi nele também meus inimigos, minhas paixões de ódio, minhas notas baixas em matemática.

Foi no amor o meu primeiro passo.

Foi no amor a água da chuva escorrendo pelos meus cabelos, minha febre em 40 graus.

Foi no amor a queda do meu primeiro dente de leite.

Foi também nele os meus pés tortos.

E foi no amor a minha cicatriz no braço direito.

Também foi no amor a minha primeira punheta.

Foi no amor o meu primeiro beijo e a minha primeira experiência.

Foi no amor o meu primeiro sexo e também a minha primeira declaração de amor – amor.

Foi no amor a minha primeira saída pela porta dos fundos, a minha primeira fuga.

Foi no amor a minha luta e a minha dança.

Foi no amor minha primeira descoberta, a mais bonita, a mais bonita, a mais.

Foi no amor a minha primeira tapa.

E foi no amor o meu primeiro homem e minha primeira mulher.

Foi no amor a minha fantasia.

Foi no amor a minha tatuagem invisível e a minha mentira.

Foi no amor o meu tesão.

Foi nele o meu gosto por chocolate.

Foi nele que me cortei em vidros.

Foi no amor que eu me vi no espelho, sem espelho algum.

Foi nele a minha crença.

Foi no amor que eu me entreguei.

Foi no amor os meus dias de escola.

Foi no amor os meus natais.

Foi no amor o meu ano de 2002.

E foi também nele o meu sorriso, que foi feito puramente em sua graça.

Foi no amor o sol.

Foi no amor a minha cabeça.

Foi no amor, também, meu primeiro tchau. E não será também o último, eu sei. – Aos que têm de ir, digo que se querem ir, que vão... Aos que ficam, tenho é o amor. E um peito ferido, mas tenho abrigo do frio, sombra do calor.

Porque foi no amor o medo que hoje eu tenho. Medo, muito medo de morrer. – Mas eu sei que se eu morrer será com todo o amor do mundo em mim.

Porque também são no amor as minhas lágrimas em meus travesseiros, desde meu primeiro grito de fome.

Amar. – Uma imagem: um grito de vida, um copo de leite, um sol na minha mesa de manhã depois de um banho de chuva com o amor ao lado... A chuva, o sol, o sol, a chuva junto. Abundância. Sábado pela manhã. Vontade de viver, muita. De sofrer, até. De amar muito, amar muito, amar. Vontade de viver, tanta! Vontade de sair gritando na rua que estar vivo é o maior barato.

Foi no amor a minha morte.

É nele a minha sorte e a minha glória, se houver.

Amar – amor ao meu lado – quando o sol nascer de novo.