segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Fourmis dans les paumes

Quando você vai parar de comer meu coração? Quando você vai parar de comer meu coração infeliz? Quando você pára de arrancar pedacinhos um a um infeliz? Quando você vai parar? Quando você vai parar de comer meu coração, infeliz? Quando você vai parar de comer? Quando você vai? Quando você vai parar de moer meu coração infeliz? Quando você vai parar de roubá-lo? Quando você vai parar de comer meu coração? Quando? Quando você vai deixar de fazer, querido? Quando você vai? Quando você vai? Quando você vai parar de triturar meu peito, infeliz? Quando você vai parar de se alimentar de mim? Quando você vai parar de cortar meus pulsos, quando? Quando você vai parar? Quando você vai deixar de fazer? Quando você vai parar de deixar de fazer? Quando você vai? Quando vai parar de mastigar a minha alegria? Quando vai devolver a mim os meus sonhos digeridos? Quando vai? Quando vai deixar de fazer inferno? Quando vai deixar de fazer-me infeliz? Quando vai deixar de fazer? Quando vai parar de fumar meus cabelos? Quando vai deixar de cuspir na minha sopa? Quando vai parar de bater nas minhas coxas? Quando vai deixar meu coração? Quando vai deixar que eu vá? Quando você vai deixar de fazer querido? Quando vai infeliz? Quando vai? Quando você vai parar de cortar meus pulsos, quando? Quando você vai parar de tomar o meu vinho? Quando você vai parar de se alimentar de mim? Quando você vai parar de beber meu sangue? Quando você vai parar de comer, meu coração? Quando você vai parar de comer meu coração infeliz? Quando você vai parar de fuzilar os meus rins? Quando você vai parar de comer? Quando vai parar de mastigar a minha alegria? Quando você vai? Quando você vai? Quando você vai partir? Quando vai deixar meu coração? Quando vai deixar que eu vá? Quando? Quando vai deixar eu ir coração? Quando vai deixar de deixar de arrancar pedacinhos do meu peito? Quando você vai? Quando você vai parar de triturar meu peito, infeliz? Quando vai deixar de mijar na minha sopa? Quando vai parar de secar nas minhas coxas? Quando vai parar de dar nos meus cabelos? Quando você vai parar de moer meu coração infeliz? Quando você vai parar de roubá-lo? Quando você vai parar? Quando você vai parar de comer meu coração? Quando você vai parar de comer meu coração, infeliz? Quando você vai parar de comer meu coração? Quando você vai parar de comer meu coração? Quando você vai parar de comer meu coração infeliz? Quando você vai parar de comer meu coração? Quando você vai deixar de fazer querido? Quando você vai parar de deixar de fazer? Quando você vai parar de depilar as minhas nuvens? Quando vai deixar de me fazer, infeliz? Quando você vai parar de arrancar pedacinhos um a um infeliz? Quando você vai parar de roubá-lo? Quando? Quando você vai? Quando você vai parar? Quando você vai deixar de fazer querido? Quando você vai parar de deixar de fazer? Quando vai? Quando vai deixar de fazer inferno? Quando vai devolver a mim os meus sonhos digeridos? Quando vai deixar de fazer-me? Quando vai deixar infeliz? Quando você vai deixar de arrancar pedacinhos um a um infeliz?

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Sós

Um de apenas e um de solidão.


quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Doce na língua

Meu peito é uma aventura. Eu sou feito prazer. Os cães ladram e eu estou aqui. A minha vontade é de coração. Um copo de felicitações, um brinde, um gole gelado e refrescante. Uma carne que se entrega constante e ágil. E vai, mesmo quando a dor é bruta. Que o meu compromisso é com a entrega. São com os achados e perdidos do mundo que eu me encaixo. Eu sigo feito bandeirante. Mesmo com a mata fechada. A claridade que a vida tem é mútua. O que escorre à terra é uma delícia.

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

FV

Seis assaltos. Nós presenciamos o sétimo e não pudemos fazer nada. Estávamos trancados do lado de dentro. O rapaz estendeu o braço pra dentro do estabelecimento e nós não pudemos fazer nada. O tio que estava com a chave do portão foi o primeiro a correr. E nós também corremos. Todos nós. Derrubamos cadeiras, viramos mesas, quebramos copos. E não socorremos o rapaz. Ficamos todos escondidos, agachados, pensando que levaríamos tiros ou que nos levariam tudo, todos os pertences. Eu pensei que eles tinham conseguido mesmo entrar. E que logo nós seríamos encontrados. E que logo nós seríamos também vítimas e não mais testemunhas. Depois, quando a gente viu que eles não tinham entrado e que na porta não tinha mais ninguém, nós voltamos aos nossos lugares e decidimos pagar a conta. Não sentamos. Estávamos nervosos. Quem teve coragem de olhar mais detalhadamente o momento em que tudo aconteceu, viu que realmente apontavam uma arma pro rapaz. Eram caras numa moto e tinha também um carro de porta aberta. E pronto. Depois disso e depois da nossa correria, nem sinal do rapaz e nem sinal dos assaltantes. Ou mesmo sequestradores. Nós não sabemos de nada. Saímos de lá em bando, morrendo de medo. Pegamos nossos ônibus querendo chegar logo em casa. E agora eu nem sei mais no que eu penso. Eu queria ter notícia dele.

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Portland

Tudo no mundo vai ficar cinza. E eu quero estar morto antes que esse dia chegue.

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Chão de fábrica

Não é preciso falar sobre qualquer instabilidade, porque vai ser instável de qualquer jeito. Toda experiência de amor é violenta.

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Eu tenho quase certeza de que esse deve ter sido o nascer mais bonito que ele já viu na vida até agora

(para Robson Levy)


Gosto das marcas na janela. Afinal nem tudo está tão próximo. Gosto do sonho quando há nele a capacidade de saber-se sonho. Gosto da realidade do acontecimento. De uma película transparente, mas suja. Onde não há fingimentos. Porque há na janela a transparência necessária de fazer conhecer o nascer do sol mais lindo que ele já viu. Mas as rachaduras acusam que ali, entre o céu e o conforto, existe um material palpável, uma estrutura crível, acrílica, suja. Que separa. O dentro do fora. O homem da nuvem. A aeromoça da turbina. É tudo tão real. Concreto. A palavra estampada no carpete, o saco de vomitar matérias, o embaço causado na janela pelo ar quente da boca. A poesia pode estar presente. Nos olhos de quem vê Deus parecer tão próximo de nós.