domingo, 29 de abril de 2012

Dispepsia


Sim. Eu estou com minha cabeça quebrada num jogo de quebra-cabeça. Similarmente. Fervilhando. E se eu reclamo, é de dor. Porque o jogo tem muito a ver, não-obviamente, com amar e tudo o que este verbo, transformado em carne, implica. Ou seja, na prática: experimentando essa solidão, essa falta, essa saudade fodida, essas contusões sentimentais. Por onde transitar?, eu me pergunto. Quais ligações eu cruzo, o que dizer, como gritar por alguém? E arriscar beijos. E arriscar frases. E arriscar curas ou ainda mais enleios perigosos e curvas na contra mão onde eu poderia morrer. Como escapar do meu jogo que eu mesmo criei se, uma vez nele, eu não poderia fugir jamais? Como entendê-lo? Como traçar uma meta? Ou como arquitetar um fim? Eu suspeito que eu não sei. Não.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Posso

Eu poderia escrever outras tantas de amor mas meu corpo não deixa. Eu poderia ter mergulhado e ter bebido da tua saliva ao invés de ficar na beira tocando as ondas com os pés. E ter optado por uma respiração leve ao invés de ofegante e pesada e ter te perguntando sobre mim em algum momento da manhã. E ter buscado mais do teu furor diabólico e ter cuidado mais da tua paz de santo. E não ter medido minha palavra. E ter dito com a palavra o que tem por trás dos meus olhos. E ao te perceber tão suscetível naquele instante ter notado que ao entrar nos teus caminhos eu poderia me perder. Mas que mesmo assim eu poderia ter te roubado um. E que eu poderia ter te roubado tantos. E que ao não ter resposta alguma sobre isso saber que amanhã eu posso te roubar um beijo.


Preciso do bheijo fantasma

Vou me render à cama, ao silêncio, lençol e ventilador. Penso em dois braços. Penso em coisas laranjas, em limão, sal e tequila. Eu me sinto em estado febril. Tremo de frio ansioso. Tramo coisas azuis. Canto. Estou desde a meia-noite. Hoje é sexta. Os óculos pesam. Durmo com o celular perto. Preciso mesmo descansar. Não queria ter que cumprir obrigações. Estou sufocando meu travesseiro. Grunhido palavrões. Quem sabe eu repita um mantra. Solene digo, como eu disse quando tinha 15 anos de idade: "preciso do bheijo fantasma". Depois eu posso sair. Provavelmente pela porta de trás. Por isso ponho pra tocar a droga do despertador. Nove e meia, baby. Embora eu saiba que só levante por volta de treze, depois de muito crer em amor.