domingo, 31 de maio de 2009

Dúvida ou Delírio

Há muitos tantos devaneios, entretanto, entre tantos, há o que é verdade. Mas o que é verdade?

domingo, 24 de maio de 2009

Paixões de praxe

Minhas paixões são tão fáceis, tão fáceis de acontecer, que duram apenas semanas, dias, momentos... Às vezes são tantas as que se acumulam que eu acabo por me esquecer das últimas da fila.


Comumente não é nada que me dê febre, nem dor; não é de rolar na sarjeta e, muito menos, algo que me ampute pedaços da alma. A paixão geralmente não me deixa de cama, não me deixa maluco, nem doente, nem cego, nem burro, nem surdo. Quando eu me apaixono – fácil assim –, eu também não faço juras de amor eterno na calada da noite, eu não me descabelo, eu não me machuco. Eu só me ponho a conquistar. Apenas – mesmo sem nunca jurar conseguir. Porque se há um fogo, a brasa tem que ser é alimentada, e a toda hora, com lenha, com mordida na pele. Porque a tentativa não mata. E a conquista é feita no facho, na conversa, na boca, na dança, na saliva, no engasgo do riso, no embaraço das mãos, nos olhares perdidos aos montes.

Mas sofrer por esses afetos de falso intento, por carros de corrida e feijões saltitantes, por cavalos ligeiros e maratonistas de passagem por cá: isso não me é válido. Não é válido sofrer tanto por coisas que passam e só deixam estradas de um nada...

A paixão é quase sempre transitória, é coisa rápida. É um transeunte breve, breve e mortal. Que queima tudo num rastro de segundo e só – deixa apenas pó e vento. E só louco pra entregar o peito assim, tão fácil à fogueira. Porque Joana D’Arc – todo mundo sabe – não teve um fim tão glorioso como o que rezam. Pra quem fica de fora, a fogueira pode ser um ato de bravura, mas pra quem se transforma em cinza, as coisas não são lá de todo heroísmo.

As paixões passam e nós ficamos... E como passam! E como ficamos! E se não passam rápido, por Deus, é que são paixões mais marcantes, mais fortes, mais doces ou mais amargas, ou mais azedas, ou mais salgadas – são de sabores que ficam na boca, gostos que perduram com o tempo... Eu sei que há alguém que me entende, que sabe do que eu estou falando; porque sabe sentir o que eu sinto.

Paixões assim são bárbaras! Até porque isso não me é comum. E por elas – apenas por elas – morrer um pouco vale à pena. E como vale – você bem sabe. Porque tudo o que elas nos causam se torna um pingo de perfeição junto aos nossos ingredientes primitivos. E nós nos tornamos menos gelados, mais belos, menos leves, mais sofridos, mais felizes, transformando-nos em almas dispostas, o que não é de todo mal. Nós nos tornamos nossas próprias dores, conhecemos nosso próprio gosto e recebemos carícias plenas do mais profundo de nós mesmos.

E é tão somente por isso que eu escrevo agora. Por essas nódoas tão gostosas de se manchar! É por essa libido que nos toma em tanto tempo, por esse açoite, por essa impressão angelical que nos marca a pele com as unhas. É só por isso que eu agora me proponho a viver essas linhas compostas por palavras, numa eterna coragem de me transformar em um ser apaixonado – vivendo uma melhor forma de se sofrer: rasgando-me intensamente em carne-viva.