domingo, 19 de julho de 2009

Ritmo de festa



Domingo é o pior dia. Tudo fica lento, as horas não passam. As ogivas são sem vida, suas cores são mortas. E é tudo quente demais. E é sem vento. Na TV, as mulheres dançam com sorrisos comprados – os braços, o improviso, as pernas cruzadas, a jogada de cabelo, o salto prateado, os brincos em metros e os peitos siliconados quase pulando pra fora do figurino cafona de lantejoulas lilases e pedrarias vermelhas. As músicas são as piores possíveis. O futebol pára a ruas e os patrocinadores compram as máquinas – enquanto os homens tomam cerveja e as mulheres falam de tratamento capilar inteligente. Mas o tédio – o tédio é sempre o mesmo – é o mesmo de todas as semanas.

Tudo tenta ser fantástico, em ritmo de festa, mas nada me agrada muito. Não acredito no descanso de Deus e acho que a ressurreição de Cristo foi em outro dia. Nem os babilônicos me excitam muito com o seu Shamash. Nem os churrascos de família – acho tudo falsidade. Nem as carnes vermelhas. Nem a República Dominicana. Nem as festas pagãs.

As pessoas são tomadas por uma alegria sem graça, com gosto de refrigerante com cheiro de barata. É uma alegria dominical, absurda e sem propósito. Uma alegria de gelatina em pó, fingida e sem escapatória, onde a família feliz é centro de um palco italiano, onde o fingimento vive, onde a ostentação é o consumo e os carrinhos de compra estão cheios, onde os automóveis dizem alguma coisa e onde os apartamentos têm mais vida. É onde a pizza dá o verdadeiro sentido do dia. É quando se come algum sabor após uma hóstia sem sal de uma missa demorada, onde o pai nosso é só de alguns e a mentira é agora e na hora de nossa morte, amém.

7 comentários:

  1. Retratção quase perfeita dos nossos entediantes domingos.

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  2. Perfeito! Eu detesto domingo pelos mesmíssimos motivos!Difícil sobreviver mas continuamos aqui né! Beijo carinhoso! Cuide-se!

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  3. Adorei o texto. Gostei principalmente da seguinte frase: "as mulheres dançam com sorrisos comprados". Isso é um verso de um poema. Em prosa, calro. À la Rimbaud.

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  4. "É agora e na hora de nossa morte, amém."
    amei Honório.
    bjs

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  5. eita, que palavras bem colocadas hein, rapaz! digo no sentido de boas de ler sem parar... pq há aqueles escritos que necessitam respirar na metade, etc. deu pra ler quase sem respirar. hehe. :P

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  6. O pior é que o fingimento, a falsidade e todas as outras banalidade se alastram por todos os outros dias.
    Talvez o domingo seja o reflexo das semanas vazias, sem graças, metódicas e frias.
    Não sei bem o que Deus fez no domingo, ele descansou? Eu realmente desconheço, só sei que a tristeza desse dia grita, enquanto as pessoas se corróem em pensar que tudo vai recomeçar e que a esperança de qualquer alegria é tão surreal quanto os poemas de Aragon.

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  7. nooooooooooooooossa
    ameii oh honorio!
    vc falou e disse!
    domingo é horrivel! =P descreveu belissimamente bem! hahaha

    te adoro!
    kel

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