terça-feira, 24 de agosto de 2010

S

Dizer muito talvez fosse pouco. E mais pouco também seria se eu falasse ainda mais pouco ou falasse tanto ou falasse nada. Aprendi com o silêncio – não o silêncio da madrugada, mas o silêncio do silêncio, das origens, do antes até de Deus existir – que o silêncio – não esse, mas aquele –, que não é o de agora-e-na-hora-da-nossa-morte, mas que é o de amanhã e o de antes de sempre, é

(Digo: preferia não dizer. Mas preciso: ele é. Porque agora mesmo penso que é pura bobagem. Digo: falar agora é falar digo: encher um copo e o vazio do espaço se esvaziar.)

é como é. Como tudo é um dia. Como tudo forá a ser e sera. Como qualquer coisa que eu – juro – gostaria muito de dizer. Digo: de explicar. Mas assim fica impossível. Falar corta. Falar quebra. Engasga o assunto e assim ele termina perdido no meio de tudo como se fosse ele engolindo ele próprio e assim resta nada porque houve o que não deveria haver

(Não deveria. Fico perdido tentando explicar. Ele some. Mas se eu tento dizer eu desdigo tudo o que foi dito. Tudo some agora. Nem a luz é silenciosa, ela vira artificial. Mas o que eu mais queria era dizer. Não tenho como. E eu quero que ele seja quando eu digo que digo que quero. Digo: quando digo que quero, quero que se faça presente.)

haver como há. As coisas são, como já foi dito. Dito: as coisas são. Simplesmente. E assim ele é, dito no não dito, incompreensível de um jeito que eu entendo e não consigo entender. Entendo: digo: repito: entendo e não consigo entender. E não deve ser dito. Digo: deve ser, mas não dito no dizer que se é dito. Porque se digo o que não deveria ser dito, assim eu torno tudo o que não deveria ser um ser de não-era-pra-ser-isso. Porque se digo, torno tudo uma bobagem. Torno obsoleto. E eu já entendi – tanto isso quanto aquilo tudo –, mas ainda sim tento. Tento. Tento. Tento, tento; tento: tento. Tento porque quero existir e

(Porque quero existir...)

quero existir e tento. Mas já sei que não devo. Porque nem Deus. Nem nada. Nem eu. Nem palavra. Tudo é nada. E é para que se viva que é preciso não dizer. Calar. Calar o que eu devo dizer

(Pela última vez, o meu último suspiro. É necessário para que se entenda o que eu preciso. O que eu preciso. Serei preciso: é necessário morrer. É necessário calar. É. Será. Sera. Forá. Fará. Assim. Agora. Enquanto eu houver nada há.)

devo dizer o que eu deva dizer. O que eu deveria. É preciso dizer o silêncio. Por isso não só digo que digo, nem só digo o que digo, eu digo: digo: digo: digo: digo:







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6 comentários:

  1. Aprecio a forma como vc embaralha tudo digo: embaralha tudo! abç!

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  2. Honório passei para conhecer seu blog ele é ótimo de excelente conteúdo desejo muito sucesso em sua caminhada e objetivo no seu Hiper blog e que DEUS ilumine seus caminhos e da sua família
    Um grande abraço e tudo de bom

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  3. Oi moço!!! Passo por aqui pra ti deixar uma coisa... Te entrego o Prêmio DARDOS pelas suas palavras intensas... Depois passa lá pelo meu blog para pegar o selo. Beijo, mil beijos... Dariurtz

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  4. Muito interessante seu blog...Parabéns
    Diferente!
    Se puder da uma passadinha e visita o Insanidade Diária... Não fala sobre as mesmas coisas mas sinta-se a vontade para visitar
    http://insanidaddiaria.blogspot.com/
    Abraço

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  5. Muito bacana o seu layout, e muito bacana o ano 1992...
    =)

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