sábado, 23 de janeiro de 2010

Cinza blue

Minhas lágrimas caem sobre as minhas mãos e eu não tenho ninguém. Só uma xícara de chá ou Coca-Cola, onde as bolhas explodem sem um porquê. Tenho medo de ser só. Tenho medo das paredes. Tenho medo do futuro, medo do azul. Tenho medo do que eu não sei. Tenho medo da minha insegurança.

Foi difícil voltar pra casa – o sol no asfalto, as folhas mortas. Foi difícil subir as minhas escadas – é difícil chegar ao teto. É difícil chorar café amargo. É difícil saber que o trem anda, que alguma coisa existe.

E eu penso em você agora. Eu penso também no outro. Eu penso nas suas palavras, penso em todos. E também penso em todas as palavras que existem. Eu penso que nada existe – eu penso em mim, solto, perdido em algum lugar. Eu penso em mim, deitado sobre um batente, o pouco sol entre os arbustos de uma árvore, o céu meio nublado, meio chuvoso, o chão molhado. Eu penso também em não pensar, prendendo ar pelos pulmões, olhando fixamente pra um ponto.

Talvez Deus me ouvisse. Talvez eu pedisse socorro. Talvez eu quisesse você aqui, do meu lado. Talvez eu não quisesse ninguém.

Eu choro compulsivamente e meu colo está vazio. Eu me escondo no banheiro pra que ninguém veja. Sinto sede de alguma coisa. Não tenho sono, não tenho nada, só a mim. Tenho meus beijos no meu corpo, tenho minhas crises; tenho minhas lágrimas por nada, nem por ninguém.

Eu queria que o mundo morresse e que eu fosse junto – tenho vontade de morrer e tenho medo da morte. Eu queria tudo como um fim sem começo, como um nada, que é simplesmente nada e pronto: tudo um ponto – tudo como o que não é, mas que está lá, parado em algum lugar que não existe, porque nunca foi.

Sinto vontade de matar os filhos que eu não tive.

Sinto vontade de não sentir.

Sinto.

Morro.

Esse é o preço de agora. E parece que são essas as minhas lágrimas.

5 comentários:

  1. Honóriooooo, seu texto, como sempre, está na fronteira entre a prosa e a poesia, o que é bom, sobretudo nestes nossos tempos, quando os limites de tudo são questionados, refratados, dissolvidos, obnubilados, num milênio novo e que já vai completando a primeira dentição.

    Pergunta: você conhece a coletânea "Meio-dia: alguna poesía de Fortaleza"? é uma edição bilíngue de poemas contemporâneos produzidos por gente daqui, e fiquei tão empolgado que resolvi dar a dica a pessoas legais, que sabem se aproximar das coisas bacanas que esta nossa cidade solar às nove horas da noite sabe proporcionar de vez em quando.

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  2. Nossa, Grande Alma!
    (Existe mesmo algo aí que não cabe nesse corpo jovem).
    Como osu teu fã, garoto.
    Cada frase é um triunfo. Cada trecho um fragmento seu desprendido.
    Quisera eu saber aos detalhes as personagens e fatos que rondam tua melancolia poética, mas nem preciso saber disso para que o texto toque na infinitude da minha consciência.
    Essa tristeza cinza é tão necessária quanto a Paz Lilás, quanto a Liberdade Azul e quanto o Amor de múltiplas cores.
    Na melancolia soam as melhores notas.
    Nos componha novos Blues, Grande Honório.

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  3. suas lágrimas são adimiráveis,
    tem horas, e agora expresso meu egoísmo, que não quero pensar. Só isso.

    Não pensar.

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  4. hoje estou morrendo junto a você...te amo honorio

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  5. Tenso e profundo do começo ao fim.
    Às vezes é bom sentir que há pessoas que compartilham de nossas dores e vidas.

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