sábado, 14 de novembro de 2009

Revolução astral

(para Natasha Maciel)



Eles dois descobriram-se no mesmo caminho. Eram diferentes e nenhum dos templos os faria melhores. Nem os médicos, nem as receitas, nem qualquer filho da puta e as suas cartilhas.

O mundo parecia uma explosão. Havia um desejo incontrolável de arder, de erguer as mão fechadas e apontar, contra o resto apagado, todas as armas possíveis – os beijos, os segredos e as pátrias proibidas.

Não queriam mais a boa educação, não queriam casamento. Se uniram por também querer guerrear pelos que, como eles, tinham ódio dos que odeiam. Eles queriam, inclusive, que o mundo fosse uma união num laço além-sangue, num atestado transcendental, num anti-matrimônio de aliança. Queriam a fraternidade e a Turquia. Queriam mais que trezentos anos, queriam a imortalidade. Queriam a vermelhidão, os traços amarelos, as curvas e os círculos. Queriam era a comunhão. E queriam também força da liberdade.

Desejavam a realidade frenética, a revolução, a verdade imaterial. Não era um sonho. Era uma luta progressiva, devagar. O mundo, com o tempo, estaria mudado, pelo menos até dobrar a esquina. E talvez fosse esse o maior desafio: querer ir para além da fronteira.

Um dia, eles partiriam daqui para além das linhas divisórias que rezavam existir. Eles iriam um dia, sim. Mas num dia próximo. Num longo dia breve, onde não haveria mais as raias e os seus confins – e se tornariam, acima de outros astros, como corpos celestes, acima dos imbecis, estrelas do próprio pó.

2 comentários:

  1. *.*
    estrelas do próprio ó e até mesmo bacantes em noites frias, num festival de emoções.

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  2. rapaz, o senhor escreve muuito bem!

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