domingo, 12 de fevereiro de 2012

Arrebata-me


E de repente eu não estou lá. Eu não me enquadro – e nem me surpreendo. Eu não me encontro. Não faço parte e nem tomo. Eu não acho. Saída. Solução. Espaço. De súbito, tomado pelo ar, em menos de minuto, sinto meu corpo flutuante, pés dormentes, cabeça distante, olhar nebuloso. Onde? Quem são essas pessoas? Antipatizo fácil. Desavergonhadamente. O que é o que é: um ponto clarificado no meio da multidão? Tranco os dentes. Invento disfarce pros meus soluços. Choro cantando. Engulo lágrimas pelos olhos. Chumbo-me. Enegreço. Me cubro com cascas de ovos. E só depois, ao chegar em casa, posso desatar – tão meus – os meus nós. É de repente. Que trincam as lentes dos meus óculos. Só então eu entendo que faz todo sentido do mundo eu ser míope.

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